A
gora, presa em meus míseros dezessete anos terei que me virar para conseguir fazer algo que nem sei se é possível. Mas como dizem, a esperança é a última que morre, porém a primeira que mata.

No meu caso a segunda parte do ditado não tem serventia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

4. Dor ou fraqueza, qual é o pior?

Cheguei em casa prestes a me trancar no quarto para nunca mais sair, porém ao ver minha adega tive uma idéia melhor. Peguei a primeira foto dela que encontrei, o melhor uísque juntamente com um copo e comecei a beber. Caminhando pela sala desisti do copo e passei a tomar diretamente do gargalo. Quando terminei a segunda garrafa, já de olhos inchados de tanto chorar, coloquei a música preferida dela para tocar. Me joguei no sofá e parti para a terceira. Até que isso era bom... Agora entendo porque a bebida é o melhor remédio.
Ouço um som vindo dos fundos. Era Miriam. Ela olha para mim, sorri e se senta ao meu lado. Começa a acariciar minha nuca e eu, fraco, a deixo fazer o que quiser. Sinto suas mãos arrancarem meu cinto, largo a garrafa, agarro-a pela cintura e acabo beijando-a. Ela pede um momento, se afasta um pouco, e com minhas mãos começa a tirar a blusa. Ela volta a me dominar com seu jogo de sedução e quando eu já estava levando-a para o quarto, Nicholas chega.
— Oooooopa! Cheguei atrasado? – ele arranca a camisa, puxa Miriam e sussurra. – Somos três agora... Será que vai ser mais divertido?
Ele desaparece com ela, e eu sem ânimo para brincadeiras que exigissem mais disposição, fiquei na sala até apagar. Acordo com Anita gritando meu nome. Abro os olhos e ela estava ajoelhada ao meu lado, preocupada, talvez.
— Senhor Lorenzo, eu...
— Dá pra falar mais baixo?! Ainda não estou alugando meus ouvidos.
— Desculpe senhor. Estou falando o mais baixo que posso. Algum problema?
— Não, não. É só dor de cabeça.
— Miriam e Nicholas estão lhe esperando para o desjejum. O senhor não vai?
— Sim. – tento me levantar, mas a cabeça estava pesando mais do que o de costume. Me dirijo, quase cambaleando, em direção a copa e vejo, pelas expressões, que a noite deles não foi nada agradável.
— E aí garanhão! Ficou na sala por quê? Medinho? Ou achou que eu não iria deixar nada para você? – ele fez uma cara perversa e olhou para Miriam. – Ela é muito boa cara! Não sabe o que perdeu.
— Cale-se! Você já ultrapassou sua meta por hoje. Foi um momento de fraqueza e... Aff, não tenho que dar explicações a vocês.
Sento-me na ponta da mesa e recosto minha cabeça entre as mãos esperando pelo café. Anita coloca diante de mim uma xícara fumegante, pego-a e dou a primeira golada, que desce tão ruim quanto as primeiras doses de ontem à noite. Miriam fica me olhando com cara de decepção. Claro! Ela não havia conseguido o que queria. Nicholas termina e arrasta ela para fora da copa, me deixando sozinho novamente. Esses dois não me seriam úteis mesmo. Não agora.
Fiquei pensando na melhor forma de vingar a morte de Kris. Isso se eu realmente tivesse coragem. Matá-lo não seria tão doloroso, teria que haver tortura. Mostrar a ele o que é dor. Tentei afastar esses pensamentos, pois esse não era o Lorenzo meigo e gentil que havia criado sua amada, mas sim um monstro sedento por vingança.
Eu havia sido chamado para uma audiência a fim de tratar dos assuntos da Empresa e do Conservatório de Música que seriam dirigidas por ela daqui a alguns meses. Talvez houvesse a leitura completa do testamento de seus pais, pois ele era um mistério até para a Justiça. Eu não me achava digno de tamanha confiança, porém me sentiria lisonjeado com tal responsabilidade. Sempre admirei os pais dela e poder continuar o trabalho deles seria uma honra. Kristin já tinha feito muita coisa após a morte deles, porém eu iria além. Conhecendo os planos dela, agora eu poderia fazer tudo e um pouco mais, pois ela deve ser lembrada sempre, como seus pais.
Miriam e Nicholas teriam que ir comigo para a audiência, infelizmente. Parece que eles estavam no testamento de Kristin, pelo menos foi o que disse o advogado da família.
— Anita, por favor, avise aos outros dois que sairei dentro de meia hora. – disse subindo as escadas.
— Sim senhor! Já estou indo. Algo mais?
— Não, obrigado.
Roupas sociais não fazem o meu estilo, mas quando é necessário eu faço um esforço. Peguei a primeira que vi e me dirigi a um banho mais do que esperado. A dor de cabeça ainda me maltratava e eu estava crente de que a água fria iria ajudar. Terminei de me arrumar e fui direto pegar o carro, sem perguntar pelos desordeiros. Foi só o tempo de girar a chave para eles chegarem e entrarem.
Seguimos em absoluto silêncio até Miriam fazer uma pergunta curiosa.
— Ainda é necessária uma governanta na casa? Não tem como eu exercer minha função, então posso fazer da minha vida o que eu quiser, não é?
— Discutiremos ao voltar do Tribunal. – respondi secamente.

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