A
gora, presa em meus míseros dezessete anos terei que me virar para conseguir fazer algo que nem sei se é possível. Mas como dizem, a esperança é a última que morre, porém a primeira que mata.

No meu caso a segunda parte do ditado não tem serventia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

3. O futuro é realmente imprevisível

Eu afundava em meus pensamentos quando escutei alguém chamar meu nome. Eu estava sozinha em uma praça, linda, deserta e aconchegante. A voz me chama novamente, eu olho ao redor e encontro, encostado em um poste, o dono da autoritária e carinhosa voz. Fico aguardando ele dizer algo, porém o silêncio permanece. Fecho os olhos, respiro profundamente, e ao abri-los o rapaz já estava sentado ao meu lado.
— Olá Kristin! – ele dá um sorriso encantador e abaixa o olhar. Eu ia responder, mas antes ele continuou. – Venho lhe trazer uma boa notícia. Agora que você deixou os humanos lhe foi concedida uma missão: encontrar um dos anjos mais poderosos que nós temos. Caim, por ter sido excomungado de nosso Reino não pode ter a mente penetrada, então você será encarregada de achá-lo.
— Quem é você? Por que eu? – como eu havia aprendido com Pablo, iria fazer poucas perguntas e, se conseguisse, uma de cada vez.
— Pelo visto você adora questionar. – ele esboçou um sorriso e prosseguiu. – Sou o Arcanjo Miguel e você foi escolhida por ser uma garota dotada de uma inteligência única e também por ser encantadora.
— O que isso tem haver?
— Com o tempo você descobrirá. Agora você é um anjo e cuidará das pessoas que ama, além de procurar Caim.
— E como farei isso? Quero dizer, se meu objetivo agora é achar esse anjo, vou ter que vagar pela Terra até encontrá-lo?
— Por que é que você acha que seu corpo não está no caixão, neste exato momento?
— Estão velando meu corpo, quero dizer, o corpo de alguém pensando que é o meu? Então permanecerei assim, com dezessete anos o resto da eternidade?
— Sim para as duas perguntas. Agora vou deixá-la. Se quiser dar uma passadinha rápida no cemitério para ver Lorenzo fique à vontade. Só não deixe ele te ver. Cuidarei para que você fique bem durante sua busca. Até mais!
Ele desapareceu sob a névoa que estava dominando o local. Começou a ficar frio, eu me encolhi no banco encostei a cabeça em meus joelhos e esperei. O frio foi dando lugar a uma brisa leve e morna. Olhei ao redor e estava em um lugar totalmente diferente, parecido com cemitério de filme. Levantei-me do chão e comecei a vagar feito um fantasma, mas paro ao ver um homem saindo de um túmulo muito bonito, parecido com uma capelinha. Minha curiosidade só espera o homem desaparecer e me guia até o local. “Aqui jaz Kristin O. Fellini, Pequena adorada”. Pelo visto capricharam no meu novo cantinho. Tinha algumas fotos, muitas flores e um livro. O livro que Lorenzo lia para mim antes de eu dormir.
Ouço o som de passos se aproximando lentamente e com uma delicada velocidade me retiro do campo de visão do visitante. Era Lorenzo. Ele estava com um jeans preto, pois detestava calça social, e uma camisa da mesma cor, que por sinal era a minha favorita. Ele para diante do sepulcro e deixa uma tímida lágrima rolar pelo seu rosto. Eu não aguentava ver aquilo e então saí sorrateiramente. Por que ele tinha que sofrer daquela forma? Por que eu teria que viver sem ele? Pela primeira vez temi o destino, pois estava sem o meu mestre.
Ao chegar à saída do cemitério deparo com um táxi estacionado. O motorista, pela janela, pergunta:
— Você é Kristin?
— Sim, por quê?
— Isso é para você.
Ele estende o braço e me entrega um envelope azul destinado a mim. Abro e leio:

“Cara Kris,

Eu falei que cuidaria de você e estou cumprindo! Espero que ter visto Enzo naquele estado não tenha te feito mal. Proteger você agora será uma honra... Quando precisar é só chamar.
No verso da folha tem o seu novo endereço. O táxi te levará até lá. Espero que goste da casa, fui eu mesmo que escolhi e decorei.

Até breve,
Miguel

Obs.: O dinheiro que está aí é para pagar a corrida.”

Olhei fixamente para o endereço e fiquei pensando em um bom motivo para eu passar a gostar de uma cidade pequena e sem graça. Eu estava acostumada com exatamente o oposto, creio que vou demorar a me habituar. Chegamos ao endereço indicado e comecei a procurar pelas chaves da casa. O motorista abriu o porta-luvas e me entregou um chaveiro muito engraçadinho que estava lá esperando por mim. Paguei o simpático taxista, desci do veículo e parei diante da bela e adorável residência. Entrei pela porta principal, que já estava destrancada, e comecei a passear pela casa, apreciando cada mínimo detalhe. Finalmente parei em meu novo quarto, que por sinal era mais bonito que o antigo. Deitei-me na cama e tentei imaginar o primeiro local onde eu iria procurar por Caim. E outra, como é que eu iria identificá-lo? Ele teria mesmo uma marca? É, estou com um dever de casa inacabável.

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