A
gora, presa em meus míseros dezessete anos terei que me virar para conseguir fazer algo que nem sei se é possível. Mas como dizem, a esperança é a última que morre, porém a primeira que mata.

No meu caso a segunda parte do ditado não tem serventia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

2. “Você é minha vida agora...”

— NÃO! NÃO! NAAAAAAAAAÃO!
Eu não sabia se chorava ou se gritava. A dor era grande demais para me deixar tomar decisões. Como ele pôde fazer isso? Eu havia descumprido com minha parte, mas por que matar ela? Por que ela e não eu? Enquanto eu lamentava a morte de minha menina, Pablo tentava entender o motivo do assassinato.
— VOCÊ É IDIOTA, GABRIEL? NÃO PRECISAVA DISSO TUDO! PARA QUE, HEIN? PARA MOSTRAR QUE É O BOM? Fils de catin! Je aussi aime celle!
— Como você ama uma pessoa que nem conhece direito? Larga de ser bobo Pablo, esse negócio de amor a primeira vista não existe!
— Ih, sujou! Os milicos tão entrando... – Théo sussurrou.
Antes que isso realmente acontecesse eles desapareceram. Não deu nem tempo de eu jurar vingança de um modo mais perceptível. Nicholas e os policiais correram à procura deles e eu fiquei com o corpo frio e inerte de minha pequena. Miriam estava observando de longe, sem fazer nada. De repente ela se senta no chão ao meu lado, deita minha cabeça em seu ombro e cai em prantos. O socorro chega e pede para que eu me afaste a fim de que eles possam fazer o seu trabalho e eu, não aceitando a condição, tentei me agarrar ao corpo dela, mas Miriam, ajudando eles, me puxou bruscamente de lá. Eles retiram o belo e singelo corpo de Kristin e se dirigem à ambulância que estava aguardando no lado de fora. O paramédico me avisa que uma pessoa deveria acompanhá-los e a governanta se dispõe a fazê-lo, argumentando que queria ficar mais alguns minutos com sua tão adorada protegida. Kris realmente tinha razão: Miriam era falsa com ela. Agora ela provou literalmente. Empurrei-a para longe e entrei no carro sem hesitar. Ela me olhou com raiva e Nicholas surge. A ambulância entra em movimento, eu recosto minha cabeça no banco e as recordações me invadem.
“Lorenzo, meu filho, a vida da amável Kristin está sob sua responsabilidade. Cuide como se ela fosse completamente sua.”
Eu olhei para aquele minúsculo ser dormindo e me perguntei se a responsabilidade que eu teria agora valeria à pena.
“Mas papai, e se... E se alguma coisa acontecer com ela? E se eu falhar?” Ele me olhou, respirou fundo e disse quase cuspindo as palavras:
“O destino não nos pertence. Faça o que for possível para mantê-la bem.”
Nossa família sempre cuidou dos Fellini geração após geração. E uma das tradições era que os homens, novos ou velhos, se encarregassem de cuidar da menina que nascesse, com ou sem a morte dos pais dela. Eu tinha 9 anos e já possuía uma protegida. Estávamos com os Fellini há mais de três décadas e nada de estranho havia acontecido com eles. Eram muito respeitados por causa da postura e do dinheiro que tinham, porém, além dos admiradores existiam aqueles que tinham ódio e inveja deles. Eu tinha medo de que a novata da família pudesse ser um imã para problemas. Principalmente por estar sob meus cuidados. O tempo foi passando e eu só conseguia ter adoração por ela. Ensinei-a falar, a andar, a apreciar as belezas da natureza... Coisas pequenas que para mim eram enormes e que só me aproximavam mais ainda dela. Chegou então o dia em que seus pais morreram. Ela estava com 14 anos, ficou muito abatida, porém juntos conseguimos vencer a dor da perda. Eu sentia que pertencia a ela cada vez mais e que se a perdesse, mesmo que por um segundo, enfraqueceria. Agora eu estava perante minha falha: a morte dela. Eu não podia decepcioná-la, ela confiava em mim!
Haveria vingança. Eu iria encontrar Gabriel e iria apreciar sua agonia. Não! Eu não vou matá-lo, pois sujar minhas mãos com sangue impuro seria perda de tempo. Ele ainda vai amar alguém. Não vou matar o pobre e ingênuo ser que será capaz de compartilhar uma parte da vida com ele, mas essa pessoa irá fazê-lo pagar, não sob minha ordem, mas seguindo fielmente ao roteiro que o destino escreveu. A ambulância parou e só assim eu voltei ao presente. Olhei para Kris, mas ao fazê-lo me senti tão mal que o paramédico que estava ao meu lado ficou atento, quase que esperando por um desmaio ou coisa do tipo. Dirigi-me lentamente ao IML atrás dos médicos e enfermeiros que estavam com Kris para tratar das coisas consideradas importantes no momento.
Pedi para que Nicholas cuidasse do velório, que seria feito no dia seguinte. Quando cheguei ao local, reparei que satisfizeram ao meu pedido: o caixão estava fechado. Eu não queria ter que olhar para ela daquela forma novamente. Miriam estava comigo o tempo todo, tentando me confortar. Ela podia não gostar de Kris, mas parecia que ela gostava de mim. Isso não é nada bom, pois não vou corresponder aos sentimentos dela.
Minha missão agora era encontrar o assassino e me vingar dele. Mesmo que eu não tenha coragem de fazer justiça com minhas próprias mãos, mas eu quero vê-lo antes do seu inevitável fim.

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